Com a rápida expansão do COVID-19, uma grande parte da população mundial está em situação de quarentena ou isolamento. Um isolamento social marcado pela ansiedade e pelo medo. Medo da doença, da morte, da perda de rendimentos… Que impacto psicológico podemos esperar desta situação?
Ansiedade
Os níveis de ansiedade na sociedade moderna são, por norma, bastante elevados. Numa altura de incerteza e falta de segurança nas diferentes áreas da nossa vida, estes níveis aumentam significativamente.
Com a generalização do isolamente começa a verificar-se um aumento significativo de problemas psicológicos em pessoas sem histórico anterior. Os problemas relacionados com o sono e a concentração são os primeiros sintomas, aos quais temos todos de estar atentos.
Medo e Solidão
Vivemos uma época de medo. Estamos todos à mercê de factores que não podemos controlar, o que nos coloca num estado permanente de ansiedade.
A possibilidade de ficarmos doentes, ou aqueles a quem amamos. A possibilidade de os perder. A quebra de rendimentos e o nosso emprego em risco. Uma série de factores que não controlamos e para os quais não temos qualquer solução.
Nesta fase, várias pessoas relatam comer desmesuradamente, fumar mais do que o habitual, passar horas à janela ou serem incapazes de se concentrarem em qualquer tarefa. Mesmo aquelas que por norma passam grandes períodos em casa, sentem-se alteradas. Afinal, a questão não é estar em casa, é não poder estar noutro lado. É o facto dessa decisão estar fora do nosso alcance.
Os níveis de stress sobem a pique, favorecendo o surgimento (ou agravamento) de problemas como as doenças cardiovasculares e a obesidade.
O sentimento de solidão aumenta. O facto de não sabermos quando o isolamento vai acabar, a insegurança, a frustração, a falta de informação adequada e o receio da escassez de alimentos aumenta, ainda mais, o medo.
Experiências Anteriores
Muitos de nós nunca se viram em tal situação anteriormente, no entanto, talvez se recordem da epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda) em 2002. Nessa época, o isolamento obrigatório também foi a solução encontrada nas zonas mais afectadas. As suas consequências podem dar-nos uma ideia do que nos espera quando tudo isto passar.
Segundo estudos feitos após a crise de SARS, depois do final do período de isolamento 29% dos indivíduos apresentavam sintomas associados a quadros de pós-stress traumático e 31% desenvolveram depressão. A grande maioria dos indivíduos revelaram sentimentos de confusão, raiva e ansiedade.
Em Portugal, os governantes optaram por começar a pedir à população que optasse pela quarentena voluntária - pedido esse muito criticado, devido à falta de cumprimento de uma larga franja da população. No entanto, do ponto de vista psicológico, esta seria a melhor solução, visto que a quarentena voluntária está associada a menos stress e menos complicações a longo prazo.
O exemplo da China
Na China, o primeiro país a sofrer com esta pandemia, o problema começa agora a ser ultrapassado e a vida a voltar lentamente ao normal. Pesquisadores da Universidade Médica Naval de Shangai fizeram um estudo preliminar para avaliar a predominância de Pós-stress traumático entre a população.
O estudo foi realizado através de questionários e concluiu-se que há uma prevalência de cerca de 5% na generalidade da população.
Tudo tem um lado Positivo
Apesar de todos os problemas, a quarentena é a nossa melhor arma para combater um inimigo que não se vê e que se espalha a uma velocidade alarmante. Por isso, não devemos deixar de abordar os pontos positivos que vão surgindo.
O principal é, sem dúvida, o aumento da solidariedade. As pessoas estão mais preocupadas com os outros, querem ajudar. Muitos, que às vezes nem conheciam os vizinhos, agora oferecem-se para ajudar os mais idosos ou doentes. Muita gente procura uma forma de se sentir útil e capaz. A união tem se espalhado e surgiram voluntários para as mais diversas tarefas.
O planeta, ao contrário de nós, agradece esta pausa e recupera um pouco do excesso de poluição, retardando as alterações climáticas que colocam em risco a nossa existência.
O que fazer para ultrapassar este período da melhor maneira?
A forma mais rápida de aumentar a ansiedade é ficar a pensar no mesmo assunto durante horas a fio. A nossa mente tem uma capacidade incrível para encontrar ainda mais problemas do que aqueles que já temos. Então procurem distrair-se, conectar-se emocionalmente com as pessoas que moram na mesma casa, brincar, conversar. Façamos todas aquelas coisas para as quais nunca há tempo ou disponibilidade.
Usem e abusem das possibilidades que a tecnologia nos oferece. Entrem em contacto on-line com outras pessoas regularmente.
Tentem criar uma rotina diária. Façam limpezas e organizem aquela gaveta que há muito tempo precisa de ser revista. Limpar e organizar coisas dá-nos uma sensação de controlo que é reconfortante em tempos como estes.
Meditem e façam exercício físico. Evitem comer todos aqueles snacks maravilhosos que estão na despensa, quando passam o dia todo sentados no sofá a ver filmes e séries.
Cuidem de vocês e mantenham-se informados. Escolham fontes fidedignas (cuidado com a informação falsa) e procurem informar-se da situação uma ou duas vezes por dia.
Agora temos tempo
Levamos metade das nossas vidas a dizer que não temos tempo, que não podemos parar, que não sabemos mais para onde nos virar. Agora temos. Demasiado. Aproveitemos este tempo que não queríamos, mas que nos foi dado e façamos o melhor possível de uma situação má.
Crie uma rotina dentro de casa e mantenha o contacto com aqueles que mais gosta através do telefone ou internet.
Mantenha uma atitude positiva. Evite reclamar sobre aquilo que não pode fazer, procure novas coisas para fazer. Aprendamos a esperar.
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