quarta-feira, 17 de abril de 2024

A Verdade Sobre o Jejum Intermitente

 


O Jejum Intermitente é, nos últimos anos, e apesar de não ser uma dieta, uma das mais populares formas para tentar um emagrecimento rápido. Trata-se de um padrão alimentar, em que se intercala períodos onde nos alimentamos normalmente, com períodos mais ou menos prolongados de jejum.

No entanto, este culto do jejum intermitente é algo bem informal e proliferado online, por isso, é importante perguntar-se: qual a verdade acerca deste método de emagrecimento?

O Jejum Intermitente Funciona?

O jejum intermitente tem muitas variáveis, como o intervalo de tempo de jejum e o que pode ou não consumir nesse intervalo de tempo. Geralmente, apenas água, mas também há outras possibilidades, desde que não influenciem os níveis de insulina. É importante reforçar que o período noturno, ou seja, quando estamos a dormir, conta como período de jejum.

Durante o período em que não se alimenta, sendo este mais ou menos longo, o organismo vai buscar todas as reservas de “combustível” para continuar a funcionar normalmente. Este combustível é a gordura acumulada, levando assim ao emagrecimento.

É seguro?

São várias as tradições religiosas que praticam o jejum. Na Grécia Antiga acreditava-se que ajudava a curar doenças. A ciência moderna tem uma opinião bastante positiva relativamente ao mesmo. Estudos demonstram existir um maior controlo de doenças como o colesterol, tensão arterial e diabetes.

O jejum, por si só, não é prejudicial à saúde, estudos indicam até vários benefícios na sua prática. No entanto, a falta de informação fidedigna, assim como ausência de qualquer acompanhamento médico ou profissional, pode, sim, trazer alguns prejuízos à saúde.

Os intervalos de tempo nos quais se pratica o jejum são outra coisa a ter em conta. Podem ir de 12 horas até 36 horas. Jejum de longa duração pode, sem dúvida, ser prejudicial, especialmente se o seu dia a dia envolver muito esforço físico. O que come nos períodos de alimentação também é fundamental para garantir a sua segurança e saúde. Uma alimentação incorreta e sem os nutrientes adequados pode resultar em problemas como anemia, osteoporose, desidratação, queda e enfraquecimento de cabelo, bem como ansiedade e irritação.

No caso dos doentes crónicos é importante consultar o médico antes de tomar a decisão de fazer jejum. O jejum é desaconselhado a grávida e mulheres a amamentar, crianças, jovens e em casos de perturbações alimentares.

No período em que me alimento, posso comer o que quiser?

Aqui começa um dos problemas no que diz respeito à eficácia do jejum intermitente. Naturalmente, que para perder peso, o que importa é consumir menos calorias do que as que se gasta, o que parece à partida simples. Mas não é.

Se ao terminar o jejum ingerir alimentos muito calóricos e com elevado índice glicémico, então não está a trazer o benefício que poderia ao seu organismo. Causará picos de insulina que o farão sentir mais fome e desejo de consumir mais… açúcares. Para um jejum intermitente eficaz no processo de emagrecimento, açúcares e farinhas devem ser evitados. As refeições devem ser saudáveis e equilibradas - com verduras, legumes, frutas e proteínas de qualidade.

Também deverá controlar as porções, não caia no erro de comer exageradamente quando terminar a fase de jejum. É preferível fazer jejuns menos prolongados e comer normalmente a seguir, do que aumentar as horas de jejum e perder o controlo.

Casos Específicos

Alguns grupos de pessoas, por motivos muito particulares, podem ter dúvidas sobre o impacto que o jejum intermitente poderia ter no seu corpo e na sua saúde. Aqui ficam algumas ideias, mas lembre-se que deve SEMPRE consultar o seu médico.

  • Diabéticos - Algumas pesquisas apontam para o facto de o jejum poder ser um auxílio no controlo da glicémia e do peso, bem como melhorar a sensibilidade à insulina. No entanto, outros estudos põem em causa estes resultados. Se é diabético não deve experimentar o jejum intermitente sem antes consultar o seu médico assistente.
  • Desportistas - Embora o jejum juntamente com certos exercícios tenha demonstrado bons resultados no emagrecimento e até diminuição do colesterol, este poderá não ser o mais aconselhado para desportistas, especialmente se pretende treinar em jejum. Optar por não comer nada antes de um grande esforço físico pode resultar em tonturas, desmaios e crises hipoglicémicas. Procure o seu médico antes de efetuar qualquer tentativa de jejum.
  • Grávidas - Desaconselhado. As grávidas devem sempre seguir as indicações nutricionais médicas.
  • Pessoas com Distúrbios Alimentares - Tal como as grávidas, devem seguir à risca as indicações dos profissionais de saúde a acompanhar o seu caso e jamais iniciar qualquer alteração alimentar sem o conhecimento destes. O jejum intermitente neste caso é desaconselhado. 

Desvantagens

Como todas as dietas, o jejum intermitente tem algumas desvantagens que podem afetar o seu dia a dia. 

  • Concentração e memória - Passar longos períodos sem comer afeta a sua capacidade de concentração e memória, levando a uma menor produtividade nos estudos e no trabalho.
  • Capacidade de atenção - A nossa capacidade de foco e atenção pode ficar comprometida pelas longas horas sem comer, trazendo-nos maior propensão para acidentes de todo o género.
  • Irritabilidade - A baixa taxa de açúcar no sangue provocada por longas horas sem comer torna-nos mais impacientes e irritáveis. Conflitos em casa e no trabalho podem surgir com mais frequência, trazendo consequências mais ou menos graves à sua vida. 
  • Distúrbios alimentares - dietas restritivas tendem a aumentar a probabilidade de desenvolver comportamentos obsessivos relativamente à alimentação. Estes são a base para o desenvolvimento de distúrbios alimentares. A generalização, especialmente online, de opiniões e comunidades a defender a prática aumenta o risco, pois a pessoa sente o seu comportamento justificado por elas, sem se dar conta dos riscos que está a correr.

A Opinião dos Profissionais de Saúde

Apesar de alguns benefícios e haver cada vez mais pessoas a adotar o jejum intermitente como forma de manter ou perder peso, a maioria dos profissionais de saúde não o considera uma boa escolha.

Nutricionistas e médicos endocrinologistas alertam para o facto de que apesar de perder peso, a pessoa perde maioritariamente massa muscular e não gordura. Além disso, esta forma de emagrecimento não é sustentável a longo prazo, pois estamos a passar a mensagem ao organismo de que ele está em privação e, portanto, vai armazenar toda a gordura que conseguir, ou seja, desacelerar o metabolismo.

Os profissionais de saúde referem ainda que, mesmo tomando suplementos vitamínicos, o organismo não está a receber os hidratos de carbono e as proteínas necessárias ao seu funcionamento. Isto traduz-se em quedas súbitas da tensão arterial e desmaios, crises de hipoglicemia, cambras e desequilíbrios eletrolíticos.

Lembre-se de falar sempre com o seu médico assistente antes de iniciar qualquer tipo de regime alimentar que implique restrições significativas.