segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O impacto da Religião na Saúde Mental

 


A religião já provocou guerras, mortes, preconceitos e todo o tipo de efeitos nocivos na sociedade. Há quem cometa as maiores atrocidades em nome desta ideia de espiritualidade e missão superior. Mas já alguma vez se questionou qual o impacto da religiosidade na saúde mental?

Para a psiquiatria, a religião tem má reputação. Historicamente, é associada a rituais e atitudes que prejudicam a evolução e tratamento do quadro clínico. Freud considerava-a uma neurose obsessiva e, muitos psiquiatras ao longo do tempo, afirmaram que era uma fonte de sofrimento psicológico. Mas será mesmo assim?

Religião como farol orientador

A religião é muito importante para dar um significado e uma orientação (valores) à nossa vida. Ela é fundamental em momentos de grande impacto na vida de um pessoa e a Associação Mundial de Psiquiatria reconhece a relevância da espiritualidade e da religião nas questões de saúde mental.

A espiritualidade e religião dá um sentido a momentos difíceis como perda e luto, dando um significado que facilita a aceitação. Dá-nos ainda um sentido de pertença a um grupo (os que partiham das mesmas crenças que nós), fundamental para sentirmos que temos o nosso lugar no mundo.

O papel da espiritualidade no tratamento

Especialistas em saúde mental de todo o mundo concordam que a fé e o apoio oferecido pela religião ou espiritualidade institucionalizada dão uma ajuda fundamental no processo de cura. Depressão, ansiedade, vício são algumas das perturbações mais comuns e que mais beneficiam desta ligação espiritual e de pertença a um grupo. 

A vivência da religiosidade e espiritualidade é uma ferramenta útil para enfrentar as dificuldades do dia a dia e permanecer fiel ao tratamento.

Oração como Meditação


Atualmente, é do conhecimento geral os efeitos benéficos da meditação. É inegável como esta pode ajudar a lidar com o stress e ansiedade do dia a dia. 

Muitas pessoas usam-na para tomar grandes decisões de vida, ou simplesmente para se acalmar. Bom, a oração, presente na maioria das religiões, é uma forma de meditação.

É um momento solitário da pessoa em que ela fala com um ser superior, ou simplesmente consigo mesma. É um momento em que nos alheamos do que se passa à nossa volta e nos voltamos para dentro. Tem um efeito calmante e terapêutico considerável. 

Combate o Desespero

Quando acreditamos em algo maior e mais poderoso que nós, que está lá para nos ajudar, é mais fácil combater o desespero. Quando para os outros parece uma tragédia inevitável, para as pessoas religiosas ainda há um último recurso.

Há algo ali, um ser ou entidade que pode tudo. Há que ter fé e pedir. Esta crença fornece uma força extra para enfrentar as adversidades, porque aconteça o que acontecer, estas pessoas sentem que não estão sozinhas. 

Dá sentido às adversidades

Ter uma religião, ou uma crença espiritual tem um peso importante na forma como enfrentamos as adversidades. A religião atribui um sentido ao sofrimento, não é aleatório.

Nem sempre este sentido é o mais desejável, mas retira muito do sentimento de aleatoriedade, injustiça e descontrolo que nos assola nos maus momentos. Um bom exemplo disto é o processo de luto. A ideia de que a pessoa falecida continua a viver noutro lugar, um lugar melhor, no qual um dia voltarão a encontrá-la tem um efeito tranquilizante na família e amigos enlutados.

 

Sentimento de pertença

Sentir que não estamos sozinhos é muito mais do que ter companhia. É sentir que pertencemos, que há alguém que, aconteça o que acontecer, estará lá por nós. Para algumas pessoas, a espiritualiade por si só e a crença em Deus ou noutro Ser Superior é o suficiente para este sentimento. No entanto, ser religioso dá-lhes mais do que isso.

O sentimento de pertença é enorme, quando há um grupo de pessoas que pensam e sentem como nós. A religião fornece-nos isso. Faz com que os crentes se sintam mais acompanhados e oferece uma rede de apoio social. 

A vivência da religião importa

Vários estudos têm demonstrado o impacto positivo que a religião tem na saúde física e mental do indivíduo a vários níveis. Indiscutivelmente, a pessoa que vive a sua espiritualidade de forma positiva tem uma menor susceptibilidade a perturbações do foro psicológico.

No entanto, o impacto negativo de certas práticas, do fanatismo e da negação da ciência nalgumas comunidades religiosas não pode ser ignorado, representando um factor de risco vital na procura por tratamento adequado, por exemplo, na esquizofrenia. 

Espiritualidade Negativa

A espiritualidade e religião surge nas mais variadas formas e, enquanto no geral, é benéfica, também pode ter um efeito negativo em situações muito específicas.

Durante a Idade Média, por exemplo, a religião era usada de forma castradora. Deus, ou o Ser Superior em que acreditavam, era usado de forma quase chantagista, para controlar as massas e obrigar as pessoas a comportar-se “adequadamente”.

Esta mentalidade, actualmente ultrapassada, continua no entanto em vigor em certas comunidades e tem um impacto tremendo na saúde mental e, até mesmo, física. Quando se encara a religião de forma punitiva, os níveis de ansiedade e depressão elevam-se, podendo mesmo conduzir, nos casos mais extremos, à morte.

O fanatismo religioso e a crença cega nas capacidades do divino também poderão levar os doentes a não procurar ajuda ou abandonar tratamentos indispensáveis à sua vida.

Religião e Saúde Mental

A ligação entre a religião e saúde mental tem sido abordada de diferentes formas e os estudos podem ser controversos, de acordo com a amostra escolhida.

O fanatismo e obcessão poderão dificultar o tratamento das doenças mentais, no entanto, a vivência saudável da religião tem um impacto positivo na saúde mental geral do indivíduo.

A religião vivida de forma positiva e descontraída contribui para uma melhor qualidade de vida.