Em muitas situações de violência ou injustiça, especialmente em ambientes escolares, acontece um fenómeno psicológico curioso: quanto maior o grupo de pessoas presentes, menor a probabilidade de alguém intervir.
Isso ajuda a explicar por que as notícias são invadidas por casos em que vemos os estudantes a filmar a agressão em vez de tentar impedir ou procurar ajuda. Mas por que é que isso acontece?
O Efeito da Difusão de Responsabilidade
Quando um grupo grande presencia uma situação de violência, cada indivíduo tende a assumir que outra pessoa tomará uma atitude. Esse fenómeno é estudado pela psicologia há mais de meio século e é conhecido como difusão de responsabilidade: se há muitas pessoas presentes, ninguém se sente pessoalmente responsável. É como se o peso da ação fosse diluído entre todos, fazendo com que ninguém aja.
Esse efeito foi observado em diversos estudos psicológicos, como a experiência de John Darley e Bibb Latané, que demonstrou que quanto mais testemunhas há numa situação de emergência, menor a probabilidade de alguém tomar uma atitude, como, por exemplo, ligar para o 112.
O Poder do Grupo e a Conformidade Social
Outro fator importante é o efeito de conformidade social. As pessoas, especialmente crianças e adolescentes, têm um forte desejo de se encaixar e evitar o julgamento dos outros. Se ninguém intervém, muitos assumem que a melhor decisão é seguir o comportamento da maioria – mesmo que isso signifique ficar parado ou até mesmo rir da situação. O último pode também ser explicado pelo nervosismo.
Isso também explica por que algumas testemunhas, em vez de ajudar a vítima, optam por filmar ou partilhar vídeos do bullying nas redes sociais. A tecnologia facilitou a difusão deste comportamento, e muitas vezes os jovens preocupam-se mais em capturar o momento do que em refletir sobre as consequências.
Como Combater esse Comportamento?
Entender os mecanismos psicológicos por trás do bullying e da inação das testemunhas é essencial para combater esse problema. Algumas estratégias incluem:
- Educação para a empatia e responsabilidade: ensinar crianças e adolescentes sobre a difusão de responsabilidade pode ajudá-los a reconhecer o problema e tomar atitudes conscientes.
- Incentivo ao apoio entre pares: promover uma cultura onde ajudar seja a norma, não a exceção.
- Intervenção ativa dos educadores: professores e direções escolares devem estar atentos aos sinais de bullying e incentivar o diálogo sobre a importância de intervir.
- Uso positivo da tecnologia: em vez de filmar atos de violência, os jovens podem ser incentivados a usar a tecnologia para denunciar e consciencializar.
Conhecimento como Fonte de Poder
Ao compreendermos que o comportamento coletivo pode influenciar decisões individuais, podemos criar um ambiente escolar mais seguro e solidário. A mudança começa com a conscientização e o incentivo para que cada indivíduo entenda que a sua ação – ou omissão – tem um impacto real.