O medo da desilusão é um medo comum e recorrente em qualquer ser humano. Nada nos perturba mais do que ver as nossas esperanças irem por água abaixo sem qualquer hipótese de fazermos algo. No momento em que isso acontece, sentimos que os nossos sonhos acabaram de vez e jamais poderemos retomá-los.
É por isso que, muitas vezes, preferimos a dor de um não definitivo do que a incerteza de um talvez que pode nunca vir a acontecer e que a esperança torna numa grande desilusão, quando nos damos conta que jamais poderá ser real.
No entanto, onde é que este medo é mais forte? Teremos mais medo de desiludir os outros? Ou a nós mesmos, no confronto com eles? O que realmente nos preocupa quando tememos as opiniões e os confrontos? Talvez essa sensação de desilusão seja apenas o medo de não pertencer a um sistema no qual fomos criados e instruídos a acreditar.
O medo da desilusão está altamente relacionado com uma baixa auto-estima e com o não reconhecimento das próprias capacidades, as quais, geralmente, são bem superiores ao que nós pensamos ser possível. Nós nunca somos tão frágeis ou susceptíveis como nós mesmos acreditamos que somos.
Este é, apesar de tudo, um medo saudável e que normalmente não deveria interferir na nossa vida, mas a verdade é que interfere e muito. Com o aumento das situações em que nos sentimos desapontados, começamos a pensar se não deveríamos evitar sonhar ou desejar fosse o que fosse. Isto leva-nos muitas vezes a perder oportunidades devido ao medo que temos de não sermos capazes e os nossos objectivos e projectos pessoais nunca chegam a sair do papel.
Esta é uma posição emocionalmente confortável, a ausência de grandes sobressaltos evita sofrimento, mas a verdade é que evita também, as grandes alegrias e os momentos de grande excitação que uma concretização nos pode proporcionar. Não há nada mais saboroso do que a realização de um projecto ou objectivo. Então, porque é que a nossa tendência é a do evitamento a todo o custo?
O ser humano desenvolve uma certa necessidade de status quo, ou seja, manutenção daquilo que tem. É uma tendência natural e perfeitamente saudável e inerente à maioria das pessoas que tentam manter a sua rotina, sem grandes abalos. O homem, enquanto ser social precisa do seu espaço, do seu grupo de relações e das tarefas que conhece bem e que deve realizar todos os dias. Cada decisão é milimetricamente pensada e a distância com que vivemos as coisas evita maior sofrimento.
Passamos todos os dias por aquela pessoa a quem lançamos um sorriso tímido e um bom dia por entre os dentes, mas jamais tentamos interagir mais do que isso. Porquê? Talvez não seja boa pessoa, talvez não esteja interessada em falar connosco, talvez... seja uma desilusão. Vale a pena arriscar e sofrer depois? Talvez sim, talvez não. Porém, raramente nos questionamos: então e se fôr uma excelente pessoa e eu estiver a perder uma oportunidade de conhecê-la?
Eu arriscaria então a dizer que o grande problema do ser humano é a falta de coragem para ser feliz. Ao longo da nossa vida, o medo, a rotina e a insegurança vence-nos muitas vezes. Demasiadas vezes. Vivemos todos os dias a planear um amanhã que poderá não vir e a sonhar em vez de realizar, porque no sonho não há desilusão possível.
Alexander Pope disse “Feliz do homem que não espera nada, pois nunca terá desilusões.” E eu acrescentaria: e nunca conhecerá o verdadeiro gosto da realização.
Vivemos numa sociedade apática, que nos leva a temer tudo e todos, encaminhando-nos para a ausência de desejo e vida. Estes receios são em muitas pessoas acompanhados por uma patologia não diagnosticada, à qual se dá o nome de atelofobia. É um distúrbio de ansiedade onde o sujeito sente um medo terrível de não ser bom o suficiente e de que tudo o que faz seja errado, imperfeito ou incompleto. É um medo desenfreado, que não deixa sequer a pessoa tentar ser feliz, ou fazer alguma coisa por si ou pelos outros, pois acredita no fracasso à partida.
No entanto, acredito que muitas pessoas perdem a noção do que fazem e não compreendem que é o que se passa com elas e nesse sentido é necessário um pequeno alerta, para que não deixem a vida passar por si. Muitas vezes, este tipo de atitude está de tal forma enraizado, que será necessário algum apoio exterior. Procurar este apoio já é uma forma de lutar e de fugir dessa apatia aterradora.
Claro que, mais cedo ou mais tarde, todos vão sentir na pele essa desilusão, com maior ou menor impacto em si e na sua vida. No entanto, é preciso que mantenham em mente a necessidade de continuar a lutar e acreditar que um dia conseguirão e esse dia está mais perto do que imaginam.
Há sempre algo pelo qual lutar, mas só quem arrisca o quebrar das correntes o consegue alcançar.
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