Vaporizadores, ou cigarros electrónicos, são uma alternativa ao tabaco convencional e a sua existência tem quase duas décadas. No entanto, a sua visibilidade cresceu significativamente nos últimos anos.
Muitas pessoas acreditam que os mesmos são mais saudáveis ou menos perigosos que o cigarro convencional e, portanto, uma melhor escolha para a nossa saúde. Isto levantou um acérrimo debate, sem vencedores e com muitas questão por responder.
Afinal, qual das hipóteses é a melhor para a nossa saúde? Nenhuma! Mas vamos por partes.
Como funcionam cada uma das opções?
Antes de tomar uma decisão ou fazermos uma escolha em qualquer aspecto da nossa vida, devemos sempre ter em conta todos os dados.
A principal diferença entre um cigarro normal e o electrónico é a combustão. O cigarro comum funciona através de um processo de combustão de substâncias químicas, que ao entrarem no nosso corpo, vão circular na nossa corrente sanguínea.
O cigarro electrónico funciona de forma diferente. Há uma evaporação do líquido utilizado, por via do aquecimento, gerando um vapor que será, da mesma forma, conduzido para a nossa corrente sanguínea.
Vantagens do Cigarro Electrónico
A ideia de que o cigarro electrónico é mais benéfico para a saúde, não é completamente descabida. De facto, há mais de 4000 substâncias tóxicas no cigarro convencional, que não existem no vaporizador, o que significa uma redução muito significativa de toxinas.
Para além disso, não liberta fumo desagradável, não gera beatas que acabam a poluir os nossos solos e não provoca mau hálito.
Outra vantagem, é que o cigarro electrónico pode nem sequer conter nicotina. No Reino Unido há até programas que utilizam o cigarro electrónico no processo de deixar de fumar. No entanto, isto está longe de ser concensual entre a comunidade científica.
Desvantagens do Cigarro electronico
A principal desvantagem a ter em conta no que diz respeito aos cigarros electrónicos é o desconhecimento. Ainda há muito pouca pesquisa e, consequentemente, pouca informação sobre os seus efeitos a longo prazo. Nao há estudos suficientes que garantam que todas as substâncias usadas são não nocivas para a saúde.
Na verdade, os vaporizadores podem produzir uma irritação no sistema respiratório que conduz a problemas tão graves como os que são atribuídos ao cigarro comum.
Em 2019, foram registados diversos casos, na população mais jovem, de doenças pulmonares associadas ao uso destes dispositivos, sendo a mais comum a bronquiolite obliterante. Neste caso, os brônquios são danificados e inflamam devido à inalação excessiva de produtos químicos.
Vários estudos indicam ainda que o cigarro electrónico agrava quadros pré-existentes de pneumonia.
Nicotina
A questão da nicotina está longe de ser simples. Na verdade, os cigarros electrónicos podem não conter nicotina, no entanto, esta não é a norma.
A presença de nicotina aumenta os riscos de problemas cardiovasculares - aumenta o colesterol, a frequência cardíaca e a pressão arterial - entre outros danos à saúde. Elevadas doses de nicotina podem causar náuseas, convulsões e depressão respiratória. No caso das grávidas, aumenta o risco de aborto espontâneo, alterações do desenvolvimento cerebral do feto e parto prematuro.
Apesar de não ser uma substância cancerígena por si só, está confirmado que a nicotina contribui para a evolução de tumores já em formação.
Substâncias cancerígenas
Um cigarro convencional tem um sem número de substâncias cancerígenas e todos temos conhecimento disso. Mas estarão os cigarros electrónicos livres delas? A resposta é não. Nos vaporizadores é possível encontrar chumbo, estanho, nitrosaminas, crómio e compostos fenólicos - todos eles com um elevado potencial cancerígeno.
Para além disso, a lei é bastante omissa em relação aos cigarros electrónicos e estes estão bem menos regulados que os convencionais em relação às substâncias que os compõem. A verdade é que, com os vaporizadores, não sabemos ao certo o que estamos a ingerir.
Os vaporizadores são uma forma de parar de fumar?
De acordo com a maioria dos profissionais de saúde, a resposta é um grande não. Os cigarros electrónicos não acabam com o vício, apenas o substituem por outro. Alguns estudos indicam até um aumento do fumadores em países como os EUA devido à proliferação do cigarro electrónico.
Apesar de existirem alguns programas de tratamento da dependência no Reino Unido que recorrem a estes dispositivos, a comunidade médica olha com preocupação para os vaporizadores.
A Organização Mundial de Saúde não reconhece o cigarro electrónico como tratamento antitabaco e avisa que o discurso da indústria de que funcionam como “redução de danos” é uma mera campanha publicitária.
O cigarro electrónico mantém a dependência comportamental e psicológica do ato de fumar e, volto a referir, pouco se sabe dos seus efeitos a longo prazo.
Síndromes misteriosas e outras complicações
Recentemente, uma síndrome respiratória misteriosa tem afligido os americanos. Ainda sem grandes explicações para o fenómeno, as autoridades de saúde atribuem ao cigarro electrónico a principal responsabilidade.
Os doentes costumam chegar aos hospitais com dores no peito, dificuldades respiratórias e febre alta. Mais de metade dos pacientes têm menos de 25 anos, o que é incomum nestes tipo de doenças e cerca de 75% são do sexo masculino.
Enquanto novos indícios vão surgindo sobre os efeitos do uso de vaporizadores, novos estudos vão sendo feitos para averiguar a perigosidade dos mesmos. Gostaria de salientar um estudo da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, que constatou que os vaporizadores elevam o risco de enfarte e AVC, bem como do instituto oncológico INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva) no Brasil, que associa o cigarro electrónico ao aparecimento de enfisemas pulmonares, doenças cardiovasculares, dermatite e cancro.
Cigarros electrónicos - uma alternativa segura?
A informação acerca destes dispositivos, bem como a regulamentação associada, são escassas e rodeadas de incerteza, o que nos leva a afirmar que os cigarros electrónicos não são seguros e são, sem dúvida, prejudiciais para a saúde.
Apesar de menos tóxicos do que um cigarro convencional, não são uma boa alternativa para deixar de fumar. Não acabam com o vício, apenas o substituem por outro.
Em última análise, voltemo-nos para as instituições acreditadas de saúde para referências - a Organização Mundial da Saúde garante que os dispositivos são prejudiciais e causam dependências e a Direção Geral da Saúde desaconselha a sua utilização. Assim, se quer deixar de fumar, procure ajuda médica especializada, que possa ajudar a defenir o melhor caminho para o fazer.
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