Numa população cada vez mais envelhecida, faz cada vez mais sentido falar sobre isto - cuidar do idoso. Este cuidado não é simplesmente dar-lhe comer, ou ajudá-lo a vestir. Vai muito para além disso.
Em Portugal, a maioria dos cuidadores são eles próprios idosos, com todos os problemas que isso acarreta. Em pouco tempo, o cuidador precisará ele próprio de cuidados e a sociedade não esta disponível para os dar. As instituições não chegam para todos os pedidos.
O que é cuidar?
Os cuidados com o idoso vão muito além de dar a medicação na hora certa, ou fazer a higiene. Ser cuidador exige empatia, diálogo e amor. A pessoa que precisa de cuidados precisa de muito mais do que o cuidado físico básico.
É muito frequente ver os cuidadores a tratarem o idoso de forma infantilizada. Não há nada mais degradante do que isso. Não é uma criança, é um adulto a precisar de ajuda. Infantilizar um idoso vai destruir a sua auto-estima e contribuir para problemas do foro emocional, nomeadamente, depressão. O seu familiar idoso tem opiniões, ideias e vontades.
Se a pessoa estiver lúcida, não há razão para não a deixar tomar as suas próprias decisões. Se a lucidez já começa a faltar, ou percebemos que é uma decisão que coloca a pessoa em risco, então devemos conversar, argumentar e dialogar. Evite dizer “é assim porque eu quero” ou “sou eu que mando”. Na dúvida, coloque-se no lugar da pessoa - o que gostaria que lhe dissessem ou fizessem naquela situação?
Saúde mental - de ambos
Não raras vezes, estamos tão preocupados com a saúde física, que nos esquecemos da saúde mental - vital para o nosso bem-estar e bom funcionamento diário.
No caso do cuidador, tem um trabalho duplo a nível de saúde mental, pois tem de se preocupar com a saúde mental do idoso e a sua própria.
Não é fácil encontrar este tipo de equilíbrio, até mesmo pelo facto de termos pouco tempo e estarmos constantemente ocupados com a pessoa a cuidar. No entanto, sentirmo-nos bem psicologicamente é fundamental para uma boa convivência numa etapa de vida tão difícil, quer para o cuidador, quer para o cuidado.
O Sono
O sono no idoso é um assunto delicado, pois pode oscilar entre uma permanente sonolência, ou uma total falta dele. Isto pode ser um problema para o cuidador, pois, se por um lado o excesso de sono pode levantar preocupações, a completa ausência dele pode ser extenuante, caso a pessoa queria circular pela casa ou chame constantemente, por exemplo.
Mesmo quando dormimos a noite inteira, pode haver situações em que o sono não é raparador e isso afecta o nosso dia. Esta situação é mais frequente à medida que a idade avança e pode deixar o idoso menos disposto, mais cansado ou até mesmo irritável. Por esse motivo, é importante promover momentos relaxantes e de pausa, especialmente quando se aproxima a hora de deitar. Estes podem ser determinantes para o descanso de ambos.
A higiene
A hora da higiene suscita sempre muitas dúvidas e receios. Maioria das vezes, não tem a ver com o acto em si, mas com algums constrangimentos de parte a parte. De facto, se a pessoa está lúcida pode até sentir-se humilhada por necessitar que outra pessoa lhe dê banho ou troque uma fralda.
A melhor forma de lidar com isto é agir com naturalidade e tentar que a pessoa usufrua do maior conforto possível. Em momento algum, o idoso deve ser chamado à atenção por ter urinado na cama, ou por precisar de fraldas. Mais uma vez, é um exercício de empatia: como se sentiria se fosse consigo?
É importante também lembrar, especialmente para as pessoas cuja profissão é cuidar de idosos, que um idoso não são todos os idosos. Cada pessoa tem a sua personalidade e direito à sua individualização. Pessoas diferentes têm necessidades diferentes e é uma obrigação do cuidador tentar detectá-las.
O Banho
O banho é um momento delicado que enche o idoso de constrangimentos. O ideal é o mesmo ser dado num local calmo (onde o idoso não se sinta exposto), deve ser rápido (tanto quanto possível) e deve ser proporcionado ao idoso alguma sensação de autonomia, por exemplo, dar-lhe a esponja para se ensaboar se tiver condições para tal.
Outra coisa a ter em conta é que muitos idosos sentem desconforto e mesmo dor ao toque. Seja delicado e tenha paciência.
Cuidados de pele
A pele dos idosos tende a tornar-se mais seca e por isso, fere com maior facilidade. Uma boa hidratação é fundamental para evitar feridas, especialmente em pessoas acamadas - as famosas escaras, dolorosas e difíceis de curar.
Além do cuidado directo com a pele - mantê-la limpa e hidratada - deve haver especial cuidado com a roupa de cama e de vestir. Escolha peças confortáveis, de tecidos naturais que não causem fricção no contacto com a pele.
Alimentação
Tal como a higiene, a alimentação é um tema fundamental e exige certos cuidados.
A maioria das pessoas mais velhas precisa de uma dieta especifíca ou pelo menos certos cuidados na alimentação. Doenças como a diabetes, colesterol ou hipertensão precisam da ajuda da alimentação para serem controladas. Para além disso, com o passar do tempo podem surgir alterações do palato e intolerâncias alimentares, que nem sempre são óbvias e às quais devemos estar atentos.
É ainda preciso um extremo cuidado no próprio momento de alimentar. Oferecer porções pequenas, mais facilmente digeríveis e mais vezes ao dia, bem como garantir que a pessoa não se engasga, especialmente se tiver se ser alimentada deitada ou quase. Para os idosos acamados é ainda importante oferecer aliemntos ricos em fibra. A falta de movimento pode provocar obstipação e a fibra ajuda a evitá-la, dando mais conforto à pessoa.
Conforto e Vida Social
Ter conforto e bem-estar vai muito mais além das necessidades básicas. Entretenimento e possibilidades de convívio e contacto social são também muito importantes. Procure proporcionar actividades, dentro do gosto pessoal da pessoa que não só estimulem o cérebro (e se possível o físico), como também a deixem entretida e de bom humor.
Todas as actividades que estimulem a socialização e o contacto humano são bem-vindas.
Não somos sempre fofinhos
A imagem do idoso como o avôzinho ou avózinha queridos e fofos que nos enchem de amor e carinho nem sempre é a realidade do cuidador.
Há muitos motivos para tal acontecer e alguns estão directamente relacionados com a personalidade da pessoa. Os idosos são muitas vezes desprovidos de vontades, personalidade, ou maneira de ser pelas pessoas à sua volta. Mas isto não faz sentido. Cada um continua a ter a sua própria maneira de ser e forma de estar, com tudo o que isso implica.
Outro momento que muitos não esperam é quando em caso de demência ou patologia do foro mental, o idoso se torna agressivo e antipático, muitas vezes recusando cuidados. A revolta pela situação em que se encontram também é frequente.
Em qualquer dos casos, o cuidador não precisa de julgamentos, precisa de ajuda. Lembre-se também que não tem de fazer tudo sozinho e pode recorrer a ajuda de profissionais, sempre que sentir essa necessidade.
Diante de reações desagradáveis, o ideal é sempre manter a calma e tomar uma atitude conciliatória em vez de confrontatória. Tente negociar com a pessoa e terá a vida de ambos mais facilitada.
O desgaste do cuidador
O cuidador do idoso nem sempre é valorizado como devia, seja pelo governo e pela sociedade, seja pelos mais próximos. Muita gente, ainda encara o cuidar de pessoa idosa como dar comer ou ajudar no banho e esquecem todo um lado emocional e de esforço físico envolvido.
Apesar das dificuldades do ponto de vista físico, como a força necessária para levantar a pessoa ou as poucas horas de sono, foquemo-nos no lado emocional.
O cuidador está sob um stress muito grande e considerável exaustão. Isto leva muitas vezes a um processo de isolamento social do qual resulta mais cansaço e frustração - muitas vezes, a única pessoa com quem tem interacções significativas é o idoso.
É preciso proporcionar ao cuidador momentos de descanso e lazer, para que o desgaste emocional não se torne insuportável.
O derradeiro desafio
À medida que a idade avança várias condições afectam as nossas capacidades físicas e psíquicas. As mesmas tornam a pessoa idosa mais susceptível a acidentes, quedas e outras situações de risco.
A figura do cuidador é vital. No entanto, pode ser extremamente difícil e desgastante para ambos. Para uma eficaz relação entre cuidador e cuidado é preciso haver respeito mútuo. O idoso é uma pessoa com vontade própria e deve ser respeitada como tal. Há que respeitar e honrar as suas escolhas sempre que possível - sempre que não coloquem o próprio, ou terceiros, em risco.
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