O consumo do álcool está presente em todas as culturas. Estima-se que seja conhecido e consumido desde tempos pré-históricos.
Há uma forte associação entre o consumo de bebidas espirituosas e o imaginário de certos grupos ou classes sociais, sendo encarado como uma forma de socialização e aproximação a esses mesmos grupos.
Na nossa cultura, o álcool está fortemente enraizado como fazendo parte de situações de relacionamento social, sejam elas rituais organizados ou comemorações mais ou menos espontâneas. Quantos de nós organizaríamos uma festa só com água ou refrigerantes? Esta associação traz consequências na forma como a sociedade percepciona e lida com o consumo de álcool.
Efeitos do álcool no corpo humano
O álcool produz inúmeros efeitos, físicos e psicológicos, no corpo humano, a curto e longo prazo. Considerado uma droga psicoactiva com efeitos depressores no Sistema Nervoso Central (SNC), o álcool provoca alterações de comportamento, que devido ao sentimento inicial de euforia e desinibição enganam os menos informados.
Em primeiro lugar, é importante ter consciência de que o álcool não é digerido pelo nosso organismo. Isto significa que o mesmo é absorvido por inteiro no tubo digestivo com todas as suas consequências.
A nível físico, o consumo tem implicações muito diversas, consoante a frequência e quantidade do mesmo:
- doenças cardiovasculares, digestivas e cancro - o consumo continuado predispõe o organismo a este tipo de doença;
- afecta as capacidades perceptivas - sempre que estamos sob o efeito do álcool as nossas capacidades perceptivas são alteradas, especialmente a visão e audição; a nossa capacidade de reacção torna-se mais lenta, aumenta a descoordenação motora e afecta a avaliação das distâncias e da profundidade;
- desidratação - o álcool provoca desidratação e com o consumo prolongado poderá ver esses sinais na sua pele, conduzindo ao envelhecimento precoce da mesma;
- obesidade - as bebidas alcóolicas não estão livres de calorias, algumas delas têm mesmo uma grande quantidade, conduzindo-nos à ingestão excessiva das mesmas.
A nível mental e psicológico, as consequências não são menos graves:
- afecta as capacidades cognitivas - a ingestão de álcool dificulta a capacidade de raciocínio e tomada de decisão e, a longo prazo e com o consumo prolongado, surgem problemas de perda de memória;
- sobrevalorização das suas capacidades - um dos principais motivos apontado, especialmente pelos jovens para o consumo de álcool é o facto de se sentirem mais confiantes. Esta confiança traduz-se pelo risco mais elevado de acidentes devido ao aumento e desvalorização de comportamentos de risco (36% das mortes relacionadas com o álcool em 2017 ocorreram em acidentes de todo o género, incluindo de viação);
- irritabilidade e depressão - o consumo continuado do álcool está fortemente associado a quadros de depressão. O consumo excessivo frequente pode ainda ocasiar quadros de delírio alcoólico.
O Alcoolismo é apenas uma parte do problema
Alcoolismo é o nome que damos à dependência do álcool. Apesar de referências ao problema desde muito cedo na história, o conceito de alcoolismo enquanto doença surgiu apenas na segunda metade do século XIX.
Em Portugal, o Alcoolismo afecta cerca de 50 000 pessoas, sem que muitas delas procurem a ajuda necessária à realização do tratamento. Mas os problemas associados ao consumo do álcool vão mais além do que o alcoolismo.
Família
O consumo do álcool é um factor importante de ruptura familiar, violência e maus tratos.
Quase metade dos casos de violência doméstica em Portugal (cerca de 43%) devem-se ao consumo excessivo do álcool. Valores semelhantes são encontrados em situações de maus tratos e negligência de crianças.
Trabalho
A nível profissional, o consumo do álcool também traz as suas consequências, originando casos de desemprego crónico que têm repercussões em todas as esferas da vida do indivíduo.
As principais consequência no local de trabalho são:
- aumento do absentismo;
- diminuição da produtividade (quantitativa e qualitativamente);
- aumento da agressividade e conflitos laborais;
- instabilidade laboral (despedimentos sucessivos e empregos precários);
Os jovens e o álcool
Há cada vez mais notícias alarmantes referentes ao aumento do consumo do álcool entre os mais jovens. Um estudo realizado pelo SICAD (Serviço de Intervenção nos comportamentos Aditivos e nas Dependências) entrevistou jovens de 18 anos chegando a conclusões preocupantes.
- 89% dos jovens já tinham experimentado bebidas alcoólicas
- 51.9% já teriam bebido várias bebidas numa ocasião com o propósito definido de se embriagar (binge)
- 33.9% já tinham atingiram estados de embriaguez severa
- 21.1% referiram que o consumo originou mau-estar emocional e levou-os a ter relações sexuais sem preservativo, expondo-se a gravidezes indesejadas e a doenças sexualmente transmissíveis como o VIH/SIDA
- 8% afirmou ter um consumo diário ou quase diário
Educar para o álcool
Estes dados demonstram uma realidade preocupante numa população muito jovem, na qual o organismo, ainda em desenvolvimento, não está preparado para lidar com a agressão das bebidas alcoólicas.
Para a grande maioria dos jovens, o consumo do álcool é um factor de socialização e os excessos são vistos com naturalidade e como “fazendo parte”. Esse factor de socialização é passado pelos adultos e pela sociedade em geral que associa o consumo a um momento bem passado com os amigos.
É importante que os adultos repensem a sua própria posição em relação ao consumo de bebidas espirituosas, visto que os mais jovens agem, maioritamente, por modelagem. Apesar da influência dos pares ser de grande importância, a principal tendência é de repetirem na adolescência o que viram na infância (estilo de vida dos pais e cuidadores).
Há que desfazer mitos
Há inúmeros mitos e crenças em torno do consumo de álcool, muito enraizadas na nossa sociedade e que são facilmente assimiladas pelos mais jovens. É importante desfazê-los e fazer compreender os perigos mais ou menos óbvios por detrás do consumo.
Assim, lembre-se de que o álcool:
- Não aquece
- Não mata a sede
- Não dá força
- Não ajuda a digestão
- Não abre o apetite
- Não é um medicamento
Como com tudo o resto, no que diz respeito à nossa saúde, o segredo é o equilíbrio. Se se trata de um adulto saudável e lhe apetece um copo de vinho ou uma cerveja… porque não? Nada o impede - a chave é a moderação.