As forças de segurança nacionais estão esgotadas, doentes, desesperadas. O índice de problemas do foro psicológico disparou nas últimas décadas e a polícia parece ser cada vez mais mal vista pela sociedade.
Porque se encontram os nossos polícias especialmente vulneráveis a Burnout e depressão? Que sinais de alerta devem ser tidos em conta pelos que lidam com eles, a nível pessoal e profissional? Que apoios são providenciados àqueles que nos protegem?
Um grupo vulnerável
De uma maneira muito simples, o stress é uma resposta generalizada do nosso organismo a condições externas desfavoráveis. Nessa mesma linha, a actualmente famosa síndrome de Burnout é uma resposta prolongada a esse sentimento de stress, relacionado com a actividade profissional. A pessoa com Burnout sente exaustão emocional, despersonalização e diminuição do sentimento de realização pessoal.
Não é difícil perceber que as situações de stress e risco com que lidam todos os dias, deixam os profissionais da PSP e da GNR mais vulneráveis a problemas de depressão, ansiedade e exaustão. No entanto, ainda há quem veja este tipo de perturbação como um sinal de fraqueza e incapacidade. Logo, um elemento que apresente estes sintomas é visto como incapaz e a afastar.
Certamente, os níveis de resiliência existentes em cada um de nós são fundamentais para ultrapassar adversidades e lidar com o stress. Mas essa resiliência não pode estar associada a uma falta de empatia pelos cidadãos. São inúmeros os casos de agentes de polícia acusados de falta de humanidade. Afinal, em que ficamos? Queremos máquinas imperturbáveis ou pessoas com sentimentos, com os quais, têm de aprender a lidar?
Algumas estatísticas revelam que as forças policiais nunca foram tão desrespeitadas como actualmente. Há cada vez mais cidadãos que demonstram falta de confiança na polícia. O lugar da autoridade mudou, no entanto, as exigências que lhes são feitas continuam as mesmas, ou ainda maiores.
Um elemento das forças de segurança não é uma pessoa
Toda a organização de uma esquadra de polícia torna os seus elementos pessoas desfasadas do resto do mundo. Eles não têm vida própria, nem estabilidade de espécie alguma.
Alterações buroráticas e de avaliação individual dos agentes foram realizadas recentemente. Não querendo alongar-me sobre as mesmas, nem fazer aqui um discurso político, já foi demonstrado que estas tendem a diminuir os ideais de cooperação e união que fazem parte do que é ser polícia.
Mas como disse, não se pretende aqui fazer qualquer manifesto político ou de outra ordem que não da saúde, pelo que nos foquemos nos elementos físicos objectivos. Há claramente um excesso de carga horária (há relatos de 90 horas semanais de trabalho), fundamentado pelo lema “um polícia é polícia 24 horas por dia” e retirando tempo para o lazer, o convívio ou o simples descanso.
É um trabalho por turnos. Vários estudos comprovaram que o trabalho por turnos é extremamente desgastante, física e mentalmente e que estes trabalhadores devem ter mais pausas e horas de descanso. Mas não têm…
Os elementos das forças de segurança não têm vida própria. Não podem ter. Ou não poderão corresponder a todos estes esforços na protecção do cidadão. Mas deixo aqui a questão: uma pessoa exausta, sem tempo para a família, mal paga e desvalorizada, pode realmente ser um bom agente de defesa da sociedade?
"A taxa de suicídio nas forças de segurança é duas vezes superior à do cidadão comum."
Elevadas taxas de suicídio
Vou pedir que imaginem a seguinte situação: são polícias e foram colocados no turno da noite, onde sabem que, à partida, há mais violência. Encontrarão, quase certamente, problemas. Têm pela frente um turno de 12 horas, que não sabem realmente quando acaba. Depende de tanta coisa… Não se sentem valorizados no trabalho e sofrem o preconceito de uma parte (cada vez maior) do cidadão comum. Como se sentiriam?
Não peço este exercício para vos deprimir, mas sim porque é, muitas vezes, difícil colocarmo-nos no lugar dos outros. Devido a estes e outros motivos, é frequente que o profissional se sinta sozinho, isolado, o que o leva automaticamente a uma maior tendência para a depressão.
É frequente que os agentes se sintam encuralados numa espiral de exaustão e depressão, rodeados de más condições de trabalho e muitas vezes, colocados longe da família e outros relacionamentos afectivos importantes.
Uma notícia de Junho do ano passado, relatava que desde o ano 2000 se tinham registado 145 suicídios de agentes da PSP e da GNR. Uma taxa duas vezes superior à população geral.
Sinais de Alerta
Tudo começa com o stress excessivo e o objectivo deve ser tratar este ciclo desde o início. O problema é que numa primeira fase, os níveis de stress só são perceptíveis pelo próprio.
Numa fase posterior, há sinais de alerta, na presença dos quais, se deve considerar uma possível intervenção.
Sinais físicos:
- Dores de cabeça
- Irritações de pele
- Distúrbios de sono
- Problemas de estômago/intestinos
Sinais psicológicos:
- Esquecimento
- Irritação
- Cansaço
- Depressão
- Ansiedade
- Falta de forças
Que tipos de apoios têm os nossos polícias?
Numa resposta rápida e objectiva: poucos e insuficientes.
Uma manchete num jornal de Julho de 2019 diz claramente “Polícias queixam-se de falta de apoio psicológico na PSP e na GNR”. Há, teoricamente, alguns tipos de apoio aos quais os profissionais das forças de segurança têm direito, mas infelizmente, parecem não funcionar.
Profissionais de saúde mental insuficientes, associado ao estigma que os agentes sofrem após procurarem este tipo de ajuda, afasta cada vez mais os polícias portugueses de um tratamento adequado.
Há, desde o ano 2000, uma linha de apoio psicológico para os profissionais da polícia. Tem o objectivo de prevenir e diminuir o número de suicídios dentro da mesma e proporciona privacidade e anonimato. Já se verificaram alguns problemas com o funcionamento da mesma, mas neste momento, parece estar a funcionar adequadamente.