Ao longo da nossa vida sofremos todo o tipo de pressões, algumas positivas que nos impulsionam para a frente, outras que nos destroem lentamente e para as quais não há auto-estima que resista. É difícil pôr um travão nos julgamentos dos outros, mas mais difícil ainda, é impedir o nosso cérebro de achar que eles têm razão.
Assim que começamos a ter idade para compreender o que se passa à nossa volta começamos a lidar com o escrutínio da sociedade em torno da nossa vida. “Já entrou na escola?” “Largou as fraldas?” “Passou de ano?” “Ainda dorme com os pais?” Como se dessas questões dependesse o futuro da humanidade. Mas quando atingimos a idade adulta, descobrimos que não há uma resposta certa, não importa o quanto façamos.
As pessoas preocupam-se com o nosso estado civil (se já casámos é muito cedo, se ainda não casámos já estamos a passar da idade), com os filhos que temos ou não (”Ainda não têm filhos? Ah, não acham que começa a ficar tarde?” ou “Têm um filho? Tadinho, sem irmãos…” Mas se temos mais “Ai que horror, assim nem aproveitas a vida”), se temos peso a mais estamos gordos, se emagrecemos estamos doentes, se temos emprego não presta, se não temos somos preguiçosos, se vivemos em casa dos pais é uma vergonha, se temos a nossa própria casa “provavelmente estão cheios de dívidas”. Não há volta a dar, não há como fugir.
A favor dos sabichões da vida alheia estão… as redes sociais. Aquele lugar onde toda a gente julga toda a gente, mas no fundo, ninguém sabe realmente o que está a acontecer. E nem se atrevam a não por lá nada. Elitistas!
Cada vez mais as pessoas são submetidas a um julgamento feroz, condenação sem advogados de defesa e o sofrimento que isso acarreta é enorme e adoece a sociedade dia após dia.
É claro que sabemos que isto não é uma novidade, sempre ocorreu, as minorias eram as principais vítimas por serem “diferentes”. Contudo, ao invés de evoluirmos positivamente, tornamos todos os seres humanos em vítimas (mas nem por isso fizemos a vida das minorias mais fácil), de uma forma ou outra, façam o que fizerem, há sempre alguma coisa que falta, algo que não fazemos ou que fazemos demais…
Somos doentes, porque nos pomos doentes…
Numa sociedade doente é impossível ser saudável, mesmo que o sejamos, vamos sempre parecer doentes por comparação com os outros.
Mesmo não gostando das interacções acima descritas quando são direccionadas a nós, vamos fazer o mesmo ao outro. Procuramos alguém que consideramos estar pior que nós e atacamos, sem qualquer respeito pelo que a pessoa quer ou deseja, muito menos por um hipotético mau momento pelo qual esteja a passar. É uma espécie de corrida de estafetas onde passamos a dor ao próximo.
Dizemos aos nossos filhos “podes ser o que quiseres”, mas omitimos o resto da frase:
- podes ser o que quiseres… desde que encaixe nos padrões;
- podes ser o que quiseres… desde que sigas as regras que alguém escolheu;
- podes ser o que quiseres… desde que não ofendas ninguém, numa sociedade onde toda a gente se sente ofendida por qualquer coisa que seja feita ou dita.
Depois vem a dor, vem a depressão, “a epidemia do século XXI”, criada quase exclusivamente pelas expectativas absurdas que colocamos em nós e nos outros. Chegou a hora de pararmos de associar essa dor à fraqueza, pois no limite, as pessoas que se deixam abater não foram fracas, foram fortes, durante demasiado tempo.