quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

3 Lições que 2020 nos ensinou

 



O ano de 2020 foi terrível para todos nós. A humanidade voltou a sentir uma vulnerabilidade que há décadas não sentia. Isso teve impacto em todos os sectores das nossas vidas, trazendo mudanças dramáticas para todos.

No entanto, como sempre acontece em momentos difíceis, podemos tirar dele algumas lições e usá-las para nos fortalecer. 

1. Somos vulneráveis

A principal lição foi sobre a nossa própria vulnerabilidade. O Ser Humano continua a ser susceptível à doença e ao desconhecido. Maioria de nós tinha-se esquecido disso. Não há cura para tudo. Temos de ser cuidadosos. Os nossos actos, as nossas decisões e comportamentos podem ter consequências desastrosas. Às vezes, à escala mundial.

É tempo de reflectir sobre isso e repensar algumas das nossas opções de vida. 

2. Precisamos uns dos outros

É muito fácil esquecermo-nos disso na correria dos nossos dias. Sentimo-nos independentes e poderosos. E somos. Quando tudo está bem. Mas nem sempre.

O ser humano é um animal social e precisa dos outros para o seu bem-estar, principalmente o bem-estar psicológico. A família, os amigos são fundamentais para o nosso equilíbrio e se nos tínhamos esquecido disso, 2020 veio relembrar-nos.

O isolamento social aumentou os sentimentos negativos, a depressão, a ansiedade. Vamos lembrar-nos disto da próxima vez que adiarmos aquele visita aos nossos pais, aos nossos avós… Vamos lembrar-nos disso quando um amigo nos telefonar a precisar de atenção.

3. Tudo muda num segundo

É uma frase que ouvimos com alguma frequência, mas nem sempre temos a real percepção do que ela significa até uma pandemia virar a nossa vida de pernas para o ar. 

Damos por garantidas umas série de coisas que na verdade não o são e quando nos são tiradas de repente, ficamos sem chão. Vivemos constantemente a pensar no futuro, no que vamos fazer, no que vamos ter, como vamos evoluir e nem sempre olhamos para o agora.

2020 obrigou-nos a olhar para o agora e muitos de nós não gostaram do que viram.


Que 2021 nos traga o que 2020 nos levou

Este foi um ano atípico e a maioria de nós gostaria de o esquecer por completo. Em vez disso, vamos focar-nos naquilo que nos ensinou e seguir em frente, tentando ser e fazer melhor do que até aqui. 

Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Resiliência - o segredo da felicidade

 


A resiliência é a capacidade humana de se adaptar às adversidades - doença, problemas financeiros, mudanças repentinas - recuperando o anterior equilíbrio. 

Sobretudo nas mudanças mais duras, uma pessoa resiliente procura formas estratégicas para enfrentar e superar os problemas, encontrando soluções criativas. Mais importante ainda, não desiste quando estas não funcionam.

Factores de Resiliência

O sofrimento e a dor são partes inevitáveis da condição humana e são responsáveis pelo nosso crescimento e pela formação da nossa personalidade. Ajudam-nos a estabelecer empatia e aumentam a nossa tolerância à frustração, sendo fundamentais para o nosso desenvolvimento. 

Ser resiliente dá-nos a capacidade de encarar as situações menos boas de uma forma positiva. Essa capacidade é composta por uma série de factores que podem ser desenvolvidos e trabalhados diaramente por cada um de nós.  

Lidar com as emoções

Não se trata de controlar o que sentimos, mas sim, como o sentimos. Perante uma situação de stress, podemos perder a cabeça e a razão. Entramos num estado de tal forma alterado que mal conseguimos pensar. Alternativamente, podemos manter a calma e tentar arranjar uma solução para o problema.

Uma pessoa resiliente consegue gerir estas emoções fortes e reorientar o comportamento para o resultado evitando o desgaste emocional, não apenas o seu, mas o dos que convivem consigo.

Controle dos Impulsos

As emoções despertam os impulsos e é importante conseguir controlá-los, não nos deixando levar excessivamente por eles. O controle dos impulsos ajuda a regular as emoções, permitindo-nos uma vivência mais saudável e equilibrada das mesmas. 

Assim sendo, conseguimos, perante uma situação difícil, ter um maior grau de compreensão e sensibilidade para lidar com a mesma.

No entanto, tenha em mente que isto não significa impedir-se de sentir, nem ignorar a tensão acumulada. A tensão acumula-se fisicamente e pode gerar um sem número de problemas de saúde, quer do foro físico, quer mental. Certifique-se que tem alternativas para aliviar essa tensão e expressar as suas emoções. A prática de exercício físico é uma excelente forma de o fazer.

Optimismo e Bom Humor

O optimismo é fundamental para manter a sanidade mental em tempos de crise. Acreditar que as coisas vão melhorar é vital para evitar ser invadido pelo desespero. Este, não só prejudica a nossa saúde, como nos faz desistir. Desistimos, inclusivamente, de tentar. 

O optimisto está intimamente relacionado com a competência social e proatividade, fundamentais para solucionar problemas.

O bom humor é também um excelente aliado. Ter resiliência é saber rir de nós próprios e não levar demasiado a sério aquilo que não é demasiado sério. Uma pessoa resiliente em vez de se vitimizar tende a desdramatizar a situação e encará-la de forma pró-activa, procurando soluções.

Análise do Ambiente

Quando sentimos que o mundo inteiro está contra nós e nada do que façamos dá certo, é preciso parar. A resiliência dá-nos a capacidade de identificar de forma precisa e objectiva a razão dos problemas e adversidades. Isto facilita a procura de soluções, mas também nos coloca numa posição em que podemos proteger-nos um pouco mais, em vez de nos expormos ao perigo. 

Empatia

A empatia permite-nos compreender os estados emocionais das outras pessoas, identificá-los e senti-los. É uma capacidade fundamental para o equilíbrio da vida em sociedade e extraordinariamente importante para a construção da nossa resiliência.

Identificar sentimentos e emoções ajuda-nos a compreender e dar um significado aos acontecimentos e às reacções das outras pessoas. Também nos possibilita a criação de vínculos mais satisfatórios e duradouros, sem receios ou medo de fracassar.

Autoeficácia

A autoeficácia é a crença que temos nas nossas próprias capacidades para planear e executar as ações necessárias para atingir os nossos objectivos. Está intimamente relacionada com a autoconfiança e ajuda-nos a ter uma postura mais pró-activa na resolução dos problemas. 

Em vez de se perguntar “porquê eu?”, uma pessoa com elevada autoeficácia pergunta-se “O que posso fazer para melhorar?”. Aprender com os erros e desenvolver as nossas competências ajuda-nos a diminuir a ansiedade sobre o futuro. 

Aumentar a capacidade de resiliência

A capacidade de resiliência não é algo estanque. Não é algo que nasce connosco. Pode ser trabalhada e desenvolvida no nosso dia a dia. Quer seja um pequeno contratempo, ou um grande problema, uma situação menos boa ajuda-nos a desenvolver resiliência. Tudo depende da forma como a encaramos, como lidamos com ela e se procuramos soluções.

O apoio dos familiares e amigos, bem como o nosso esforço pessoal para melhorar, são grandes aliados neste percurso de auto-conhecimento.

Desafios constantes

Os nossos dias estão repletos de desafios e obstáculos que exigem resiliência. Uma adequada estabilidade emocional é o primeiro passo e, para isso, é preciso cuidar de nós e da nossa saúde mental.

Desenvolver a resiliência melhora a nossa forma de estar e encarar a vida, dá mais sentido e harmonia às nossas relações e contribui para o nosso bem-estar geral. Afinal de contas, como diz a música, “é preciso saber viver”.


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

10 Mitos e Verdades sobre a Maternidade Tardia



Nos últimos anos, a vida mudou. O objectivo de vida de uma mulher é muito mais do que ser mãe e isso reflecte-se nas suas escolhas. Cada vez mais, as mulheres adiam a maternidade e as famílias numerosas são uma raridade.

As gravidezes tardias (após os 40 anos) têm vindo a aumentar. Apesar de serem mais comuns do que nunca, bem como, terem o suporte da ciência para ajudar a que cheguem a bom termo e com saúde para mãe e filho, ainda há algum preconceito em relação ao assunto.

Analisemos algumas das ideias mais comummente associadas à gestação após os 35 anos.

1. Após os 35 anos, a mulher tem mais dificuldade em engravidar

VERDADE. A partir dos 30 anos começamos a observar uma diminuição gradual do número de óvulos. Este processo acelera ainda mais a partir dos 37 anos. Para além da quantidade, a qualidade dos mesmos começa a diminuir.

2. Uma mulher saudável tem menos problemas em engravidar mais tarde

VERDADE. Uma mulher que leve um estilo de vida saudável, não tenha doenças crónicas e se encontre dentro dos limites do peso ideal encontrará menos complicações na gravidez tardia. Diminui o risco de diabetes gestacional e tensão alta. 

Uma mulher saudável, que pratique exercício físico, que tenha as vacinas em dia e siga todas as orientações do médico (como, por exemplo, a ingestão de ácido fólico) poderá facilmente ter uma gravidez saudável e sem sobressaltos.

3. A toma da pílula ao longo de muitos anos aumenta a dificuldade em engravidar

MITO. A pílula não interfere com a sua capacidade de engravidar após parar a toma da mesma. A actuação deste método anti-concepcional é simples: ele impede que o óvulo, nos meses em que está a tomá-la, amadureça para a concepção. Nada mais. Não há destruição de óvulos ou outros problemas do ponto de vista físico. 

4. É preciso abrandar o ritmo de vida

MAIS OU MENOS. Todos nós já ouvimos a frase “Gravidez não é doença.” É um facto e este não muda com a idade da mãe. Como em qualquer outra gravidez, tudo depende dos problemas que possam, ou não, surgir no caminho.

Cabe ao seu médico avaliar o desenvolvimento da gestação, a sua saúde e as actividades que por norma realiza no seu dia-a-dia. 

5. A partir dos 35 anos não se faz parto normal 

MITO. O parto normal é perfeitamente possível em qualquer idade. A ocorrência de cesariana é determinada por outros factores. 

Este mito tem base nas estatísticas que nos dizem que quase metade das mães com mais de 40 anos recorrem ao parto por cesariana. No entanto, não passam disso mesmo, estatísticas. Seria necessário um estudo mais aprofundado destes casos para perceber a real influência da idade da mãe no tipo de parto.

6. A probabilidade do bebé nascer com algum problema aumenta

VERDADE. Com o passar do tempo, há uma maior probabilidade de alteração do número de cromossomas, o que provocará condições como a conhecida Trissomia 21. É especialmente preocupante a partir dos 40 anos. 

7. A probabilidade de aborto espontâneo aumenta

VERDADE. Tal como no ponto anterior, o avanço da idade aumenta as probabilidades de algo correr mal. Em ambos os casos, a ciência está do seu lado. O acompanhamento médico é fundamental.

8. A maternidade é mais prazerosa

VERDADE. Estudos comparativos realizados com mulheres que tiveram filhos na casa dos 20 e na casa dos 40 revelam que as últimas se sentem mais capazes, mais felizes e mais disponíveis para o bebé. 

Isto deve-se a vários factores, desde a maturidade emocional da mãe, mais liberta das inseguranças dos 20 anos, até à normalmente maior estabilidade financeira de uma mulher mais velha, com uma carreira construída. 

9. O consumo de ácido folico atenua as chances de más formações

VERDADE. A ingestão de ácido fólico está recomendada ainda antes de engravidar, por norma, dois meses antes de abandonar o seu método contraceptivo. O ácido fólico ajuda a prevenir doenças como a espinha bífida, visto que é responsável pelo desenvolvimento do tubo neural.

10. A mãe terá mais problemas durante a gravidez

SIM E NÃO. Uma mulher mais velha pode ter uma gravidez perfeitamente saudável e sem sustos do início ao fim. Não há uma relação absoluta de causa e efeito. No entanto, as estatísticas indicam-nos que há uma maior probabilidade de se deparar com alguns problemas.

As mais marcantes são a existência de tensão alta - 3.7% das grávidas mais velhas, enquanto entre os 25 e 35 anos a taxa de hipertensão situa-se nos 1.3% - e a diabetes. A diabetes gestacional afecta cerca de 11% das grávidas até aos 35 anos. A partir dessa idade, esta taxa sobe para 20%.

A ciência apoia a maternidade 

O adiamento da maternidade é uma realidade das últimas décadas e parece ter vindo para ficar. As mulheres querem mais e melhor e apostam muito do seu tempo a construir uma carreira e a tornarem-se independentes.

Se isto ainda pode ser um pouco assustador para a generalidade da sociedade, a verdade é que há boas notícias: a ciência. O avanço da medicina a nível obstétrico, mas também a melhoria dos cuidados de saúde no geral, permitem às mulheres terem filhos cada vez mais tarde e de forma mais segura.


quarta-feira, 29 de julho de 2020

Espinha Bífida: da prevenção ao tratamento



Apesar dos números terem vindo a diminuir na última década, a espinha bífida ainda é uma das mais temidas más formações do feto. Consiste num defeito na formação do tubo neural, que se traduz num fechar defeituoso da coluna vertebral com graves consequências para a criança.

Esta anomalia desenvolve-se nos primeiros meses de gestação. Actualmente, pode ser detectada de forma relativamente fácil atráves de uma das ecografias trimestrais obrigatórias durante a gestação.

Existem dois tipos do problema: oculta (quando as anomalias estão cobertas por pele, aparecendo apenas sinais subtis, como hiperpigmentação ou tufos de cabelo na área) e cística, onde se verifica a existência de uma bolsa saliente. O facto de estar a descoberto e sujeito a todo o tipo de infecções torna a cística mais preocupante e com maiores comorbilidades associadas. 




De origem multifactorial


Quando surge alguma doença ou má formação num feto, o primeiro instinto de qualquer um de nós é perguntar porquê. Conhecer os motivos pelos quais algo acontece é fundamental para evitar que volte a ocorrer.

No caso da espinha bífida, muitos estudos já foram feitos e não podemos atribuir-lhe uma causa específica, mas sim múltiplos factores que propiciam a sua ocorrência.

  • Deficiência de ácido fólico - Já há muito reconhecida com um factor fundamental, a deficiência de ácido fólico é agora combatida pela toma desde o início da gravidez (ou até 3 meses antes se fôr uma gravidez planeada) de um suplemento adequado.
  • Medicação durante a gravidez - Durante os nove meses da gravidez, são várias as situações que poderão levar a gestante a tomar medicação. Esta medicação deve ser feita de modo cuidadoso e SEMPRE segundo orientação médica. Há diferentes medicamentos com responsabilidades neste problema.
  • Hereditariedade - Não podemos ignorar o papel da hereditariedade nas diversas más formações ocorridas durante a gestação.
  • Diabetes da mãe - Vários estudos apontam para que a presença de diabetes na mãe aumente a possibilidade de problemas na formação do tubo neural.

Complicações e limitações da Espinha Bífida


Encontram-se associadas à espinha bífida uma série de complicações com vários níveis de gravidade ou incapacidade. Este impacto está em grande parte relacionado com o local e a dimensão da malformação, bem como a sua exposição ou revestimento. Algumas das alterações menores podem mesmo ser assintomáticas. 

Impacto neurológico


A nível neurológico, a espinha bífida pode resultar em paralisia e sensibilidade abaixo da zona da lesão em diferentes graus. 

A hidrocefalia, muitas vezes associada, pode resultar em hipertensão craniana.

O doente pode ainda debater-se com dificuldade em engolir e apneia.

Impacto Ortopédico


A nível ortopédico, a criança pode sofrer de atrofia dos membros inferiores e diversos problemas de coluna que podem culminar em escoliose.

Impacto Urológico


A hipofunção da bexiga é uma consequência frequente da espinha bífida. A mesma pode provocar refluxo urinário, que em última análise poderá dar origem a lesões renais. 

Tratamento


Não há um tratamento efectivo para a espinha bífida, excepto talvez, a cirurgia, muitas vezes realizada ainda dentro do útero materno. Para além da cirúrgia, a fisioterapia é uma opção importante.

A fisioterapia tem como objectivo promover a independência da criança, prevenir contraturas e deformidades, bem como ajudá-la a controlar os músculos da bexiga e dos intestinos.

Prevenir é a melhor opção


A prevenção é uma área da saúde que ainda não tem o investimento que merece. No entanto, para a espinha bífida, não há melhor opção. O consumo de níveis adequados de ácido fólico na gravidez (cerca de 4000mg diários) e meses anteriores à mesma mostrou-se uma das formas mais eficazes para prevenir esta malformação do feto.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Violência Doméstica: Cultura, Álcool ou Ignorância?



A violência doméstica consiste em maus tratos físicos ou psíquicos, dentro de um relacionamento de proximidade (casal, pais-filhos, etc), em que os comportamentos violentos visam o controlo do outro.

Há variados tipos de violência, enquadrados no conceito da violência doméstica.

  • Violência Emocional - O agressor inflige medo ou sentimento de inutilidade na vítima através de ameaças e humilhações.
  • Violência Social - A vítima é isolada, proibida de estar com familiares e amigos e tem os seus movimentos controlados. O telemóvel é, normalmente, uma das principais armas de controlo por parte do agressor.
  • Violência Física - Agressão física directa e em variados níveis, ou impedimento de acesso a tratamentos e medicação.
  • Violência Sexual - A vítima é forçada a praticar actos sexuais não desejados.
  • Violência Financeira - O agressor controla o dinheiro, recusa o acesso da vítima ao próprio ordenado, força-a a justificar os gastos, ou ameaça retirar apoio financeiro como forma de controlo.
  • Perseguição - A vítima é perseguida com o objectivo de a intimidar ou amedrontar.


Legalmente, o conceito de violência doméstica evoluiu muito e as consequências também, apesar de a lei portuguesa e as penas aplicadas ainda se encontrarem muito aquém do desejável. No entanto, não assim há tanto tempo, a violência doméstica não era sequer considerada um crime e neste momento é um crime público, não precisando ser a vítima a fazer a denúncia.


Violência Doméstica em Números


Os números de violência doméstica em Portugal são enormes e muitos são os motivos para que tal aconteça. Segundo os dados da APAV, entre os anos de 2013 e 2018 foram instaurados 43 456 processos, nos quais, 86% das vítimas eram mulheres, 33.7% das quais casadas e em 41.2% dos casos, havia filhos a viver na mesma casa.

No entanto, estes números podem estar bem longe da realidade da violência doméstica, visto que ainda há uma significativa quantidade de vítimas que por medo ou vergonha não apresentam queixa às autoridades.

No ano passado, o crime de violência doméstica resultou em 33 óbitos, 25 mulheres, 7 homens e 1 criança.

"Em 41,2% dos casos de violência doméstica, havia crianças a residir na mesma casa."


Valores Culturais


“Entre marido e mulher, não se mete a colher.” Este é um ditado popular que ilustra bem a forma como a nossa sociedade encara o casamento e o poder que este dá a um cônjuge sobre o outro. Geralmente, ao homem sobre a mulher. 

Em 2018, o Ministro da Administração Interna afirmava que o maior desafio no combate à violência doméstica é a mudança cultural. Uma mudança que tem de vir de todos nós enquanto sociedade que educa as futuras gerações, de incutir o respeito pelo outro e por si próprio.

A ideia que muitas vezes se vê na vítima, principalmente quando esta é uma mulher, de que “Eu mereci” é uma das mais difíceis de combater, porque ela encontrará muitas vozes que garantem que o erro está em si. Mereceu porque saiu, porque desobedeceu, porque não se submeteu. Ainda está muito enraizado na nossa sociedade o valor da submissão e do silêncio.



O papel do Álcool


O álcool é a droga de maior acesso em Portugal. Vista como socialmente aceite, o álcool mata centenas de pessoas todos os anos. Doenças associadas ao consumo, acidentes, actos violentos de alguém que está fora do controle. Também na violência doméstica, este parece ser um ponto fundamental.

Não são raros os relatos de agressores alcoolizados. No entanto, os vários estudos concluem que são dois factores separados, que podem coexistir, mas não estão directamente relacionados. Ainda assim, o consumo de álcool é um factor de risco, facilitador do processo, que agrava o nível de violência e o prolonga no tempo. 

A vítima tende mais facilmente a perdoar um agressor alcoolizado, atribuindo a culpa pelo comportamento ao álcool em vez de ao agressor. Sem dúvida, o álcool desinibe comportamentos, mas não os justifica. Na verdade, os nossos comportamentos são regidos por uma espécie de filtro que nos indica se podemos (ou devemos) fazer aquilo que temos vontade. O álcool age “retirando” este filtro. Uma pessoa não é violenta porque está sob o efeito o álcool. A pessoa é violenta.  

Outro problema associado ao consumo está na perigosidade da agressão (neste caso, física), pois o agressor sob o efeito de álcool perde mais facilmente a noção de como e onde agride, correndo a vítima maiores riscos de lesões graves e morte.

Após o efeito do álcool passar, o agressor pede desculpa e começa um período de lua de mel. Mostram-se extremamente arrependidos, mas a agressão volta sempre a acontecer.

Uma questão de Instrução?


A violência doméstica atravessa todos os sectores da nossa sociedade, independentemente da classe social ou grau de instrução, no entanto, o governo continua a apostar na educação como forma de conter o problema.

Afinal, o nível educacional é ou não relevante para a questão da violência doméstica?

Estatísticamente falando, a maioria das vítimas está, de alguma forma, dependente do agressor. Geralmente, estamos a falar de situações de trabalho precário ou inexistente, baixos salários… Uma menor escolaridade é, por norma, associada a trabalhos precários e mal pagos, mas os problemas financeiros não são o principal.

O agressor, muitas vezes, manipula a vítima a demitir-se, mesmo quando esta tem uma boa posição (às vezes, é isso mesmo que perturba o agressor, por exemplo, a vítima ganhar mais que ele) e elevada escolaridade.

Vários autores de estudos na área garantem que não podemos definir um perfil absoluto para a vítima, mas encontraram algumas caracterítiscas em comum: as vítimas são geralmente tímidas, caladas, conformadas e passivas, emocionalmente dependentes e deprimidas.

Olhando para as características acima mencionadas, parece-nos, que a principal questão é emocional. Estamos a lidar com questões do foro da auto-estima e auto-conceito e enquanto consideramos que a educação pode ter um papel positivo também a este nível, achamos que muitas mudanças teriam de ser feitas na mesma. As vítimas não precisam de factos acerca de violência doméstica, precisam de saber fazer, saber agir, ter confiança.

A Violência Doméstica é um problema de todos


A violência doméstica é, desde o ano 2000, um crime público. Isto significa que não é necessário existir uma queixa por parte da vítima e que todos os cidadãos têm como obrigação denunciar um caso do qual tomem conhecimento.

Está nas nossas mãos combater o problema da cultura do medo. 




PROCURAR AJUDA


Linha Apoio À Vítima - 116006

Serviço de Informação às Vítimas de Violência Doméstica - 800 202 148 (SMS - 3060 - Quando não puder falar, escreva.)

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Impacto Quarentena na Saúde Mental


Com a rápida expansão do COVID-19, uma grande parte da população mundial está em situação de quarentena ou isolamento. Um isolamento social marcado pela ansiedade e pelo medo. Medo da doença, da morte, da perda de rendimentos… Que impacto psicológico podemos esperar desta situação?


Ansiedade


Os níveis de ansiedade na sociedade moderna são, por norma, bastante elevados. Numa altura de incerteza e falta de segurança nas diferentes áreas da nossa vida, estes níveis aumentam significativamente.

Com a generalização do isolamente começa a verificar-se um aumento significativo de problemas psicológicos em pessoas sem histórico anterior. Os problemas relacionados com o sono e a concentração são os primeiros sintomas, aos quais temos todos de estar atentos.

Medo e Solidão


Vivemos uma época de medo. Estamos todos à mercê de factores que não podemos controlar, o que nos coloca num estado permanente de ansiedade.

A possibilidade de ficarmos doentes, ou aqueles a quem amamos. A possibilidade de os perder. A quebra de rendimentos e o nosso emprego em risco. Uma série de factores que não controlamos e para os quais não temos qualquer solução.

Nesta fase, várias pessoas relatam comer desmesuradamente, fumar mais do que o habitual, passar horas à janela ou serem incapazes de se concentrarem em qualquer tarefa. Mesmo aquelas que por norma passam grandes períodos em casa, sentem-se alteradas. Afinal, a questão não é estar em casa, é não poder estar noutro lado. É o facto dessa decisão estar fora do nosso alcance.

Os níveis de stress sobem a pique, favorecendo o surgimento (ou agravamento) de problemas como as doenças cardiovasculares e a obesidade.

O sentimento de solidão aumenta. O facto de não sabermos quando o isolamento vai acabar, a insegurança, a frustração, a falta de informação adequada e o receio da escassez de alimentos aumenta, ainda mais, o medo.

Experiências Anteriores


Muitos de nós nunca se viram em tal situação anteriormente, no entanto, talvez se recordem da epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda) em 2002. Nessa época, o isolamento obrigatório também foi a solução encontrada nas zonas mais afectadas. As suas consequências podem dar-nos uma ideia do que nos espera quando tudo isto passar.

Segundo estudos feitos após a crise de SARS, depois do final do período de isolamento 29% dos indivíduos apresentavam sintomas associados a quadros de pós-stress traumático e 31% desenvolveram depressão. A grande maioria dos indivíduos revelaram sentimentos de confusão, raiva e ansiedade. 

Em Portugal, os governantes optaram por começar a pedir à população que optasse pela quarentena voluntária -  pedido esse muito criticado, devido à falta de cumprimento de uma larga franja da população. No entanto, do ponto de vista psicológico, esta seria a melhor solução, visto que a quarentena voluntária está associada a menos stress e menos complicações a longo prazo.

O exemplo da China


Na China, o primeiro país a sofrer com esta pandemia, o problema começa agora a ser ultrapassado e a vida a voltar lentamente ao normal. Pesquisadores da Universidade Médica Naval de Shangai fizeram um estudo preliminar para avaliar a predominância de Pós-stress traumático entre a população.

O estudo foi realizado através de questionários e concluiu-se que há uma prevalência de cerca de 5% na generalidade da população.

Tudo tem um lado Positivo


Apesar de todos os problemas, a quarentena é a nossa melhor arma para combater um inimigo que não se vê e que se espalha a uma velocidade alarmante. Por isso, não devemos deixar de abordar os pontos positivos que vão surgindo.

O principal é, sem dúvida, o aumento da solidariedade. As pessoas estão mais preocupadas com os outros, querem ajudar. Muitos, que às vezes nem conheciam os vizinhos, agora oferecem-se para ajudar os mais idosos ou doentes. Muita gente procura uma forma de se sentir útil e capaz. A união tem se espalhado e surgiram voluntários para as mais diversas tarefas. 

O planeta, ao contrário de nós, agradece esta pausa e recupera um pouco do excesso de poluição, retardando as  alterações climáticas que colocam em risco a nossa existência.

O que fazer para ultrapassar este período da melhor maneira?


A forma mais rápida de aumentar a ansiedade é ficar a pensar no mesmo assunto durante horas a fio. A nossa mente tem uma capacidade incrível para encontrar ainda mais problemas do que aqueles que já temos. Então procurem distrair-se, conectar-se emocionalmente com as pessoas que moram na mesma casa, brincar, conversar. Façamos todas aquelas coisas para as quais nunca há tempo ou disponibilidade.

Usem e abusem das possibilidades que a tecnologia nos oferece. Entrem em contacto on-line com outras pessoas regularmente.

Tentem criar uma rotina diária. Façam limpezas e organizem aquela gaveta que há muito tempo precisa de ser revista. Limpar e organizar coisas dá-nos uma sensação de controlo que é reconfortante em tempos como estes.

Meditem e façam exercício físico. Evitem comer todos aqueles snacks maravilhosos que estão na despensa, quando passam o dia todo sentados no sofá a ver filmes e séries.

Cuidem de vocês e mantenham-se informados. Escolham fontes fidedignas (cuidado com a informação falsa) e procurem informar-se da situação uma ou duas vezes por dia. 

Agora temos tempo


Levamos metade das nossas vidas a dizer que não temos tempo, que não podemos parar, que não sabemos mais para onde nos virar. Agora temos. Demasiado. Aproveitemos este tempo que não queríamos, mas que nos foi dado e façamos o melhor possível de uma situação má.

Crie uma rotina dentro de casa e mantenha o contacto com aqueles que mais gosta através do telefone ou internet.

Mantenha uma atitude positiva. Evite reclamar sobre aquilo que não pode fazer, procure novas coisas para fazer. Aprendamos a esperar.

segunda-feira, 23 de março de 2020

7 Mitos e Verdades sobre o COVID-19



As nossas vidas foram recentemente mudadas por completo. Assistimos, no passado dia 11 de Março, uma declaração de Pandemia. Do dia para a noite, vimos as nossas liberdades restringidas em nome da nossa saúde. Ainda há quem não compreenda o que se passa. Há quem desvalorize, ou quem viva num pânico incontrolável.

A desinformação e notícias falsas a circular nas redes sociais são muitas e servem apenas para aumentar o pânico ou levar-nos a ter comportamentos de risco.

Após uma pesquisa cuidada junto de fontes oficiais (OMS, DGS, entre outras), elaborámos este post que, esperamos, ajudará a compreender melhor o que estamos a enfrentar. Vamos desmistificar.

1. O uso de máscara evita a doença.


Mais ou menos. O uso de máscara diminui (muito) a possibilidade de infecção, mas não a impede por completo. Segundo a Organização Mundial de Saúde é mais eficaz o uso de máscara por um doente infectado, evitando contagiar outros, do que por pacientes saudáveis.

Se decidir usar máscara, deve trocá-la com frequência e não se esqueça de lavar adequada e frequentemente as mãos.

2. O COVID-19 é extremamente letal.


Mito. A taxa de mortalidade só é elevada em grupos de riscos, não fazendo do Coronavírus um vírus de grande perigo para a generalidade da população. No entanto, e essa sim é a maior preocupação, tem um elevado nível de transmissão.

3. Os animais domésticos podem transmitir a doença.


Mito. Muito se falou desta possibilidade há cerca de duas ou três semanas atrás, mas já veio provar-se falsa. Os animais domésticos não transmitem o vírus.

4. Distanciamento social ajuda a prevenir o contágio


Verdade. O distanciamento social é uma das medidas mais importantes. O vírus é transmitido pelas gotículas expelidas quando tossimos ou espirramos, por isso recomenda-se uma distância de 1 a 2 metros entre as pessoas para evitar o contacto com esses fluídos. 

Deve ainda cobrir a boca e o nariz quando espirra com um lenço descartável que deverá ser colocado no lixo imediatamente. Na impossibilidade de o fazer, cubra o rosto com o braço.

5. É possível prevenir o vírus com chá muito quente ou através do gargarejo de etanol, água salgada, etc.


Mito. Esta informação foi espalhada nas redes sociais, acompanhada do logótipo da UNICEF para lhe dar credibilidade. Não só é falsa, como até perigosa. Várias das substâncias que aconselhavam a ingerir são prejudiciais e podem povocar graves acidentes. A melhor forma de prevenir o vírus é lavar cuidadosamente as mãos.

6. Não precisamos de detergentes especiais para limpar as nossas casas.


Verdade. Segundo a Direcção Geral de Saúde, a limpeza com os detergentes habituais que todos temos em casa é o suficiente. No entanto, algumas falsas dicas indicavam que limpar superfíceis com vinagre evitava o contágio. Não há qualquer evidência de que isto seja verdade.

7. Sinto-me bem, posso fazer a vida normal.


Não é bem assim. Devemos proteger-nos a nós e aos outros. Há pacientes assintomáticos que transportam o vírus. Pode não ser perigoso para vocês e ser fatal para outras pessoas com quem contactam. Deve manter-se sempre o distanciamento, lavar as mãos e evitar sair de casa desnecessariamente.



Actualmente não existe tratamento para o Coronavirus. As autoridades chinesas anunciaram uma possível vacina que irá entrar em fase de testes em breve. O tratamento realizado é dirigido aos sintomas, como a febre, ou a tosse.

Se tiver sintomas não se dirija aos serviços de urgência, contacte a linha SNS24 - 808 24 24 24.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Saúde Mental nas Forças de Segurança



As forças de segurança nacionais estão esgotadas, doentes, desesperadas. O índice de problemas do foro psicológico disparou nas últimas décadas e a polícia parece ser cada vez mais mal vista pela sociedade.

Porque se encontram os nossos polícias especialmente vulneráveis a Burnout e depressão? Que sinais de alerta devem ser tidos em conta pelos que lidam com eles, a nível pessoal e profissional? Que apoios são providenciados àqueles que nos protegem?


Um grupo vulnerável


De uma maneira muito simples, o stress é uma resposta generalizada do nosso organismo a condições externas desfavoráveis. Nessa mesma linha, a actualmente famosa síndrome de Burnout é uma resposta prolongada a esse sentimento de stress, relacionado com a actividade profissional. A pessoa com Burnout sente exaustão emocional, despersonalização e diminuição do sentimento de realização pessoal.

Não é difícil perceber que as situações de stress e risco com que lidam todos os dias, deixam os profissionais da PSP e da GNR mais vulneráveis a problemas de depressão, ansiedade e exaustão. No entanto, ainda há quem veja este tipo de perturbação como um sinal de fraqueza e incapacidade. Logo, um elemento que apresente estes sintomas é visto como incapaz e a afastar. 

Certamente, os níveis de resiliência existentes em cada um de nós são fundamentais para ultrapassar adversidades e lidar com o stress. Mas essa resiliência não pode estar associada a uma falta de empatia pelos cidadãos. São inúmeros os casos de agentes de polícia acusados de falta de humanidade. Afinal, em que ficamos? Queremos máquinas imperturbáveis ou pessoas com sentimentos, com os quais, têm de aprender a lidar?

Algumas estatísticas revelam que as forças policiais nunca foram tão desrespeitadas como actualmente. Há cada vez mais cidadãos que demonstram falta de confiança na polícia. O lugar da autoridade mudou, no entanto, as exigências que lhes são feitas continuam as mesmas, ou ainda maiores. 

Um elemento das forças de segurança não é uma pessoa


Toda a organização de uma esquadra de polícia torna os seus elementos pessoas desfasadas do resto do mundo. Eles não têm vida própria, nem estabilidade de espécie alguma.

Alterações buroráticas e de avaliação individual dos agentes foram realizadas recentemente. Não querendo alongar-me sobre as mesmas, nem fazer aqui um discurso político, já foi demonstrado que estas tendem a diminuir os ideais de cooperação e união que fazem parte do que é ser polícia.

Mas como disse, não se pretende aqui fazer qualquer manifesto político ou de outra ordem que não da saúde, pelo que nos foquemos nos elementos físicos objectivos. Há claramente um excesso de carga horária (há relatos de 90 horas semanais de trabalho), fundamentado pelo lema “um polícia é polícia 24 horas por dia” e retirando tempo para o lazer, o convívio ou o simples descanso.

É um trabalho por turnos. Vários estudos comprovaram que o trabalho por turnos é extremamente desgastante, física e mentalmente e que estes trabalhadores devem ter mais pausas e horas de descanso. Mas não têm…

Os elementos das forças de segurança não têm vida própria. Não podem ter. Ou não poderão corresponder a todos estes esforços na protecção do cidadão. Mas deixo aqui a questão: uma pessoa exausta, sem tempo para a família, mal paga e desvalorizada, pode realmente ser um bom agente de defesa da sociedade?

"A taxa de suicídio nas forças de segurança é duas vezes superior à do cidadão comum."


Elevadas taxas de suicídio


Vou pedir que imaginem a seguinte situação: são polícias e foram colocados no turno da noite, onde sabem que, à partida, há mais violência. Encontrarão, quase certamente, problemas. Têm pela frente um turno de 12 horas, que não sabem realmente quando acaba. Depende de tanta coisa… Não se sentem valorizados no trabalho e sofrem o preconceito de uma parte (cada vez maior) do cidadão comum. Como se sentiriam?

Não peço este exercício para vos deprimir, mas sim porque é, muitas vezes, difícil colocarmo-nos no lugar dos outros. Devido a estes e outros motivos, é frequente que o profissional se sinta sozinho, isolado, o que o leva automaticamente a uma maior tendência para a depressão.

É frequente que os agentes se sintam encuralados numa espiral de exaustão e depressão, rodeados de más condições de trabalho e muitas vezes, colocados longe da família e outros relacionamentos afectivos importantes.

Uma notícia de Junho do ano passado, relatava que desde o ano 2000 se tinham registado 145 suicídios de agentes da PSP e da GNR. Uma taxa duas vezes superior à população geral.

Sinais de Alerta


Tudo começa com o stress excessivo e o objectivo deve ser tratar este ciclo desde o início. O problema é que numa primeira fase, os níveis de stress são perceptíveis pelo próprio.

Numa fase posterior, há sinais de alerta, na presença dos quais, se deve considerar uma possível intervenção.

Sinais físicos:

  • Dores de cabeça
  • Irritações de pele
  • Distúrbios de sono
  • Problemas de estômago/intestinos 


Sinais psicológicos:

  • Esquecimento
  • Irritação
  • Cansaço
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Falta de forças


Que tipos de apoios têm os nossos polícias?


Numa resposta rápida e objectiva: poucos e insuficientes.

Uma manchete num jornal de Julho de 2019 diz claramente “Polícias queixam-se de falta de apoio psicológico na PSP e na GNR”. Há, teoricamente, alguns tipos de apoio aos quais os profissionais das forças de segurança têm direito, mas infelizmente, parecem não funcionar.

Profissionais de saúde mental insuficientes, associado ao estigma que os agentes sofrem após procurarem este tipo de ajuda, afasta cada vez mais os polícias portugueses de um tratamento adequado.

Há, desde o ano 2000, uma linha de apoio psicológico para os profissionais da polícia. Tem o objectivo de prevenir e diminuir o número de suicídios dentro da mesma e proporciona privacidade e anonimato. Já se verificaram alguns problemas com o funcionamento da mesma, mas neste momento, parece estar a funcionar adequadamente.




quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Tudo o que precisa saber sobre a Meningite W




Observámos recentemente uma corrida desenfreada às farmácias em busca da vacina para protecção contra a Meningite W, provocando ruptura de stock da mesma. O pânico alastrou em muitos pais quando notícias do aumento de casos deste subtipo da doença chegaram à comunicação social. Terá todo este alarido razão de ser?

Meningite - principais preocupações 


A meningite é uma inflamação das meninges (membranas protectoras do cérebro e espinal medula) e pode ocorrer devido a uma larga variedade de factores.

Por ser uma doença grave, com elevada mortabilidade e morbilidade, a meningite é vista com muito receio entre a generalidade da população. Facilmente transmissível de pessoa para pessoa, através de gotículas de saliva ou secreção expelidas ao falar, tossir, espirrar ou beijar, é uma das principais preocupações de pais de crianças pequenas. 

Apesar de existirem várias recomendações no sentido de prevenir a doença, apenas a vacinação é realmente eficaz na hora de evitá-la. Dados governamentais relativos ao subtipo C demonstram bem este facto. Em 2002 foram diagnosticados 78 casos de Meningite C em Portugal. Em 2006, a vacina para combater este subtipo entrou para o Plano Nacional de Vacinação e em 2010 foram diagnosticados apenas 6 casos. 

Nimenrix - Sim ou Não?


Esta palavra, recentemente entrada no vocabulário da população geral é o nome da vacina que nos protege da Meningite W. Não havendo uma resposta absoluta à questão “Devemos ou não dar a vacina aos nossos filhos?”, alguma informação poderá ser útil na altura da decisão.

Em primeiro lugar, é importante saber que existem 12 subtipos ou serogrupos da doença, sendo que os mais comuns são o A, B, C, W e Y. A vacina Nimenrix fornece protecção contra os grupos A, C, W e Y.

Muitas pessoas se questionam actualmente porque a dita vacina não se encontra no Plano Nacional de Vacinação. É importante compreender que estamos a falar de um total de 8 casos numa população de cerca de 11 milhões de habitantes, o que não coloca a doença como uma ameaça à saúde pública.

Faz sentido a corrida à vacina?


Independentemente da sua escolha em relação à administração da vacina, nada parece justificar a corrida desenfreada à mesma. O aumento de casos relatado na comunicação social, apesar de estatisticamente significativo (60%), quando traduzido em números reais dá-nos uma perspectiva bem diferente: tivemos um aumento global de 5 para 8 casos.

Outro dado a ter em conta na hora de correr à farmácia é que todos os casos relatados ocorreram em adultos e não em crianças, pelo que não estamos em perigo de surto eminente em creches e infantários, como alguns pais em pânico acreditam.

No entanto, as estatísticas valem o que valem e nunca sabemos se seremos nós o caso num milhão. É de referir que existem alguns factores que se revelaram de maior risco para a aquisição da doença:

  • ter menos de um ano
  • ter o sistema imunitário em baixo
  • ter entre 16 e 23 anos
  • haver um surto da doença na comunidade


A opinião dos pediatras


Estamos numa fase de desenvolvimento enquanto sociedade em que muitos de nós queremos estar protegidos de tudo, enquanto alguns grupos se recusam a vacinar os filhos. Estas ideias contraditórias geram diversos conflitos e, muitas vezes, são a base para situações de pânico desnecessárias

A vacina Nimenrix não esgotou apenas em Portugal, mas em praticamente todos os países onde é comercializada. Estaremos a exagerar na preocupação?

Na sua generalidade, os pediatras são a favor da vacinação. Apesar de rara, a doença apresenta uma taxa de mortalidade entre os 10 e 15% e sequelas permanentes em 20 a 25% dos pacientes. Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, estamos a falar de uma taxa de mortabilidade muito superior à apresentada pelo sorotipo mais frequente - Meningite B - que se situa nos 7%.

Ponderando todos estes dados, a vacinação parece ser uma boa opção, mas provavelmente, não será necessário todo o pânico e corrida desenfreada às farmácias que se verificou.